Foto: Nadson Carvalho
Um município à beira do colapso. É esse o retrato da Ilhéus que a nova administração municipal encontrou ao assumir a Prefeitura em 1º de janeiro de 2025. O diagnóstico foi apresentado na manhã desta quinta-feira, 08, em uma coletiva de imprensa na sede da Prefeitura Municipal. O documento revela problemas que vão da precariedade estrutural e ausência de documentos oficiais até uma dívida que ultrapassa os R$ 900 milhões.
O secretário de Gestão, Cristiano Carvalho, iniciou a exposição destacando que a transição administrativa ocorreu sem a devida entrega de documentos por parte da gestão anterior. (Dos 45 documentos previstos em instrução normativa, a Prefeitura recebeu apenas quatro). Tudo o que foi levantado foi feito por diligências, entrevistas com gestores, análises de documentos e visitas presenciais.
Segundo o secretário, a Prefeitura já pagou mais de R$ 8,3 milhões em despesas herdadas de 2024 e não registradas como restos a pagar — entre elas, parcelamentos com a Receita Federal e convênios emergenciais. Além disso, o município enfrenta bloqueios judiciais que somam R$ 42,4 milhões, impactando diretamente o orçamento. A maior parte desses bloqueios é decorrente principalmente de precatórios vencidos e débitos com a Receita Federal, alguns ignorados pela gestão passada.
O cenário fiscal é considerado crítico. “Estamos falando de uma dívida total oficial de R$ 929 milhões, envolvendo débitos fiscais, previdenciários, precatórios e despesas não processadas que continuam aparecendo e poderão ingressar nessa dívida”, revelou o secretário. “Essa situação compromete seriamente o planejamento da nova gestão.”
Educação em colapso
A secretária de Educação, Evani Cavalcante, reforçou o tom de urgência ao descrever as condições encontradas nas escolas da rede municipal, com algumas funcionando de forma improvisada. Trata-se de um desafio técnico, um cenário de colapso. Telhados desabando, escolas reformadas às pressas que já precisam de novas reformas, cozinhas sem estrutura para oferecer alimentação digna aos alunos, infiltrações, instalações elétricas e hidráulicas precárias, ausência de acessibilidade e várias escolas sem receber mobiliário há 8 anos.
“Nós chegamos ao período da transição sem nenhuma licitação vigente pra que pudéssemos preparar as unidades escolares com a qualidade que os alunos precisam pra ter condição de ensino. Não tínhamos licitação de gráfica, alimentação, combustível. Apenas a de transporte escolar. As demais, como dedetização, mobiliário, alimento e água, não tínhamos.”, desabafa a secretária.
Ela relatou os impactos causados pela ausência de materiais básicos para o funcionamento das unidades. “A gente não tem como ter uma educação de qualidade se não tenho uma cozinha preparada para oferecer um alimento para aquela criança. Se eu não tenho serviços gerais, material de limpeza, material de impressão.”
A secretária também destacou o impacto emocional causado pela situação. “Os professores, gestores e alunos estão cansados. A comunidade escolar está cansada do descaso. Nosso objetivo é recuperar Ilhéus, e é isso que estamos fazendo: dispostos, responsáveis e comprometidos”, finaliza.
Saúde sem insumos e com ambulâncias paradas
A secretária de Saúde, Sonilda Mello, apresentou um dos relatos mais preocupantes da coletiva. Sanitarista e servidora efetiva do município há duas décadas, ela classificou como “estarrecedora” a situação encontrada. “Das 52 unidades de saúde, apenas duas têm condições mínimas de atendimento conforme o preconizado pelo Ministério da Saúde. As demais estão degradadas, com infiltrações, mofo, falta de insumos básicos e precisando de reformas.”
Segundo ela, não havia esparadrapo, álcool, luvas ou gaze para procedimentos simples, e a sede da secretaria sequer possuía água. “Encontramos a saúde sem contratos vigentes com prestadores de serviço e com 14 veículos abandonados em uma oficina de Itabuna”, disse. “E o SAMU, que é essencial, operava com apenas duas ambulâncias, ambas irregulares, sem seguro de saúde, nem emplacamento, o que descumpre as normas do Ministério da Saúde.”
A dívida herdada na Saúde já ultrapassa R$ 38 milhões, incluindo salários atrasados, pagamentos de clínicas conveniadas e o piso da enfermagem. “A gestão passada deixou de pagar prestadores em outubro, novembro, dezembro e o décimo terceiro do piso da enfermagem. Estamos tendo que negociar com prestadores para não interromper o atendimento à população.”
Apesar das dificuldades, a secretária afirmou que a equipe tem se desdobrado para manter os serviços essenciais. “Na saúde, não dá para parar. Não posso dizer à população: ‘não adoeça essa semana porque a unidade está em reforma’. A gente troca o pneu do carro com ele em movimento”, comparou.
Compromisso com a reconstrução
Os secretários reforçaram o compromisso do governo com a transparência e a responsabilidade na condução da administração pública. Evani Cavalcante foi enfática ao dizer que a nova gestão não será pautada por discursos vazios e a educação não será mais uma propaganda em rede social. Ela será construída nas salas de aula, nas cozinhas escolares funcionando, nos professores valorizados e nas crianças bem alimentadas.
Sonilda Mello fez um convite à imprensa e à população. “Todos que quiserem conhecer a realidade de perto, basta procurar a Secretaria de Saúde. Está tudo documentado, para que os senhores verifiquem a veracidade das nossas palavras.”, finalizou.
De acordo com Cristiano Carvalho, há uma grande dificuldade em efetuar um planejamento responsável para realizar as ações necessárias. A reconstrução de Ilhéus vai exigir tempo, esforço coletivo e coragem para tomar decisões difíceis, mas não faltará trabalho nem seriedade.