INSS turbinou sindicato do irmão de Lula em 3 anos — mais de R$ 100 milhões

Sumário

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Em meio a investigações da Polícia Federal sobre descontos indevidos em aposentadorias, o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi) — que tem como vice-presidente Frei Chico, irmão do presidente Lula — viu seu faturamento crescer R$ 100 milhões em apenas três anos.

Segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), a entidade saltou de um faturamento de R$ 41 milhões em 2020 para R$ 149 milhões em 2023. O aumento coincide com o crescimento expressivo de filiações no sindicato, que pulou de cerca de 170 mil para 420 mil associados no mesmo período.

O Sindnapi mantém, há mais de uma década, um acordo de cooperação com o INSS que permite o desconto da mensalidade associativa diretamente na folha de pagamento dos aposentados e pensionistas. Esse sistema, no entanto, está no centro de denúncias feitas pela Controladoria-Geral da União (CGU), que identificou casos de filiações questionáveis — em uma amostragem de 26 beneficiários, 20 disseram nunca ter se associado, apesar dos descontos mensais.

A direção do Sindnapi contesta as acusações e afirma que os associados se filiam de forma espontânea, muitas vezes com assinatura de fichas, gravação de áudios e biometria facial. Em diversos processos judiciais, a entidade tem conseguido decisões favoráveis.

Entretanto, chama a atenção o vínculo entre novas filiações e a contratação de crédito consignado. Segundo o TCU, em 2023, cerca de 482 mil novas adesões tiveram o início do desconto praticamente na mesma data de contratos de empréstimos — o que levanta suspeitas sobre uma possível “venda casada”. Dentro do prédio do sindicato, funciona uma cooperativa ligada à entidade que oferece crédito consignado aos aposentados.

Apesar das coincidências, o TCU não chegou a fazer recomendações mais severas sobre a prática.

Briga política nos bastidores

Embora leve o nome da Força Sindical, o Sindnapi hoje está sob o comando de Milton Cavalo, filiado ao PDT e aliado do ministro da Previdência, Carlos Lupi. A mudança de comando causou um racha interno com o deputado Paulinho da Força (Solidariedade), fundador e ex-presidente de honra do sindicato. Paulinho tentou, inclusive, anular judicialmente a eleição de Cavalo, sem sucesso.

Frei Chico, por sua vez, está ligado ao Sindnapi desde 2008, mas assumiu a vice-presidência apenas em 2023 — justamente o ano em que a entidade registrou o maior aumento no número de associados e no faturamento.

Na última quinta-feira (24), um dia após a operação da Polícia Federal que mirou 11 entidades suspeitas de aplicar descontos indevidos em aposentadorias, Paulinho usou as redes sociais para criticar o caso, afirmando que a “farra dos descontos aconteceu debaixo do nariz do presidente Lula” e que se trata do “maior roubo ao trabalhador da história do país”.

Milton Cavalo respondeu dizendo que a entidade está colaborando com as investigações, que nenhum dirigente foi alvo de busca e que muitos aposentados estão sendo pressionados por abordagens ostensivas da CGU, o que, segundo ele, pode ter influenciado as respostas negativas sobre as filiações.

“Existem associações que realmente cometem fraudes. O Sindnapi apoia que elas sejam investigadas e punidas, mas temos feito tudo dentro da legalidade”, afirmou Cavalo.

Enquanto isso, o sindicato segue em evidência, com sua estrutura sendo ampliada — são hoje cerca de 80 unidades de atendimento espalhadas pelo país — e seu nome cada vez mais no centro de uma disputa que mistura política, bilhões em descontos e o futuro de milhares de aposentados brasileiros.

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