Por que as passagens para Ilhéus estão entre as mais caras do Brasil?

Sumário

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Foto: Lauro Calazans

Quem tenta embarcar para Ilhéus já percebeu: as passagens aéreas estão entre as mais caras do Brasil. Mesmo em voos curtos e com antecedência, os preços assustam. E a pergunta que muita gente se faz é: por quê?

A Folha da Praia foi em busca de respostas. Conversamos com Lauro Calazans, diretor do Aeroclube de Ilhéus, que há anos acompanha os bastidores da aviação local e conhece os desafios técnicos por trás dessa tarifa tão alta. O que descobrimos é que o problema não está apenas na malha aérea ou no número reduzido de voos, mas na ausência de um procedimento moderno de navegação por satélite, chamado RNP-AR (Required Navigation Performance – Authorization Required).

Esse sistema permite que aeronaves realizem aproximações com precisão mesmo em dias de baixa visibilidade, algo comum em Ilhéus, especialmente durante os meses de inverno. Sem esse procedimento, as companhias aéreas enfrentam incertezas operacionais, pois os aviões muitas vezes iniciam o pouso, mas são obrigados a arremeter por não conseguirem visualizar a pista.

“Hoje, quando o tempo fecha, as aeronaves iniciam a aproximação, mas não conseguem pousar por não enxergar a pista no ponto necessário. Por legislação, elas são obrigadas a arremeter e alternar para outro aeroporto, geralmente Salvador”, explica Calazans. “Isso gera custos extras com hospedagem, transporte ou reacomodação de passageiros, e tudo isso é calculado no preço da passagem.”

Apesar de parecer algo muito técnico, o RNP-AR é um procedimento baseado em GPS, que não exige obras ou equipamentos físicos no aeroporto. Ele depende de um estudo técnico, da aprovação dos órgãos reguladores e da adequação da cidade às exigências de segurança do espaço aéreo. “É um desenho feito no céu, por onde a aeronave navega automaticamente. Mas, para isso acontecer, é necessário que o aeroporto faça sua parte: remova obstáculos e se adeque às normas”, diz Calazans.

O DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) identificou 69 pontos de interferência no entorno do aeroporto Jorge Amado e o Aeroclube de Ilhéus, que atua como consultor técnico voluntário da prefeitura, teve acesso a esse documento. A maioria desses pontos são árvores, algumas dentro da própria área aeroportuária, além de postes, antenas e prédios que ultrapassam o limite de segurança. A prefeitura já foi acionada para fazer a supressão de árvores e sinalizar estruturas que impactam o espaço aéreo. Um exemplo é a ponte Jorge Amado, que deveria ter iluminação de alerta no topo, mas ainda não está adequada. Também há prédios sendo lançados na Zona Sul sem estudos de impacto aéreo submetidos ao Comando da Aeronáutica.
“O que falta é articulação. Não adianta pedir para a cidade se adaptar se, no fim, o procedimento não for aprovado. É preciso que tudo aconteça em conjunto”, alerta o diretor do Aeroclube.

Além de pesar no bolso do passageiro, a falta desse procedimento impacta a imagem da cidade: muitos turistas embarcam para Ilhéus e acabam pousando em Salvador, completando o trajeto por terra. Isso desestimula o visitante, gera reclamações, transtornos e até processos contra companhias aéreas. “A cidade tem um aeroporto moderno, com estrutura renovada, mas precisa fazer o dever de casa para garantir pousos mais seguros e previsíveis em qualquer condição de tempo”, conclui Calazans.

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