O que houve com Heitor Gustavo? Uma história de omissão e busca por justiça

Sumário

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O que era para ser uma internação de rotina para tratar um quadro de bronquiolite evoluiu para uma tragédia. Heitor Gustavo, hoje com três meses, teve o pé amputado há pouco mais de um mês, após uma sequência de complicações que, segundo a mãe, Sarah Ribeiro, foram causadas por negligência e falhas no atendimento no Hospital Materno-Infantil Doutor Joaquim Sampaio, em Ilhéus.

Sarah relata que deu entrada na unidade na noite de 15 de maio, após dias lidando com tosse intensa e febre persistente do filho. “Fizeram lavagem nasal, exame de Covid e raio-x. O médico disse que ele estava com bronquiolite e pneumonia e que seria internado”, conta.

Heitor foi levado para a UTI pediátrica, inicialmente com suporte de oxigênio por CEPAP. No dia seguinte, os médicos optaram pela intubação. A mãe foi retirada da sala durante o procedimento e, ao retornar, recebeu a notícia de que o bebê havia sofrido duas paradas respiratórias. “Ninguém explicou como aquilo aconteceu. Só mais tarde, lendo o prontuário, vi que uma das paradas ocorreu durante o raio-x, por falta de cuidado ao movimentá-lo”, relata.

Desde então, o estado de saúde do bebê se agravou. Sarah denuncia falhas sucessivas da equipe de enfermagem: medicamentos sedativos e adrenalina foram administrados por acesso periférico no pé da criança, que logo apresentou sinais de extravasamento. “O pé ficou roxo, inchado, frio. Eu mesma percebi. Os técnicos disseram que era urina, depois infiltração. Tiraram foto e mandaram para uma médica vascular, que orientou cuidados à distância. Ela só avaliou o pé pessoalmente seis dias depois”, denuncia.

Apesar da melhora no quadro respiratório, Heitor permaneceu na UTI sem receber tratamento adequado para a infecção no pé. A transferência para uma unidade especializada só aconteceu após uma liminar judicial, obtida pela família, três dias depois de protocolada no fórum. “Ficaram inertes. Ninguém me deu resposta, nem a direção do hospital. A gente conseguiu a liminar por conta própria”, afirma Sarah.

O bebê foi transferido para o Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, somente 22 dias após a denúncia ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), que abriu investigação para apurar as circunstâncias do caso. No HGE, exames constataram que a infecção havia avançado até o osso, diagnosticando osteomielite. O bebê passou por desbridamento cirúrgico e perdeu todo o calcanhar. A equipe médica chegou a propor uma cirurgia de reconstrução com músculo do abdômen, mas alertou sobre os riscos de rejeição e novas infecções. Após análise, no dia 2 de julho foi realizada a amputação do pé do bebê.

Durante o procedimento, os médicos coletaram material do osso e constataram que a infecção persistia acima do coto. O tratamento segue com antibióticos específicos, sensíveis à mesma infecção já identificada anteriormente. A expectativa é de que o tratamento continue até pelo menos 7 de agosto, com nova ressonância marcada para confirmar se a infecção foi contida.

A família acredita que a demora na transferência e no tratamento da lesão contribuíram para a necrose do pé. Sarah afirma: “Ele foi extubado em uma semana e precisava ser transferido com urgência, mas houve uma demora que só agravou a situação”. Ela relata ainda que foi a primeira a perceber o vazamento da medicação aplicada no pé, o que desencadeou a infecção.

O Ministério Público da Bahia informou que solicitou os prontuários médicos de Heitor, tanto do Hospital Materno-Infantil quanto do HGE, para realizar uma perícia indireta. O objetivo é apurar se houve negligência ou falhas nos protocolos médicos, podendo resultar em medidas penais ou administrativas contra os responsáveis.

Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) afirmou que Heitor foi acolhido na unidade de Ilhéus e transferido para Salvador após o agravamento do quadro clínico. A Sesab reconheceu que a lesão no pé ocorreu como uma complicação durante o tratamento, em razão da gravidade do caso, e afirmou que o bebê foi acompanhado por equipe multiprofissional, incluindo cirurgião vascular.

Segundo a secretaria, os familiares foram informados sobre todos os procedimentos adotados, e a criança teria recebido assistência integral e humanizada em ambas as unidades. A Sesab também comunicou que irá instaurar uma sindicância para apurar a conduta dos profissionais envolvidos no atendimento no Hospital Materno-Infantil Doutor Joaquim Sampaio.

Sarah, no entanto, contesta a versão apresentada. “A gente não foi ouvido. Se eu não corresse atrás, não teria nem transferência. Eles diziam que estava tudo bem, mesmo com o pé do meu filho necrosando. Eu só quero justiça”, afirma.

Sobre a atual internação no HGE, Sarah afirma que a equipe tem sido atenciosa e acolhedora. “Estamos sendo muito bem tratados aqui. O atendimento tem sido realmente humanizado e cuidadoso, o que tem nos dado mais segurança e esperança”, relata.

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