Faltando menos de duas décadas para completar 500 anos, até hoje, em fóruns, congressos, seminários e demais eventos, Ilhéus ainda é rotulada como uma cidade de “potencial turístico”. Mas, para o fotógrafo, escritor e memorialista José Nazal, essa definição seria equivocada. “Ilhéus possui uma série de fatores que faz dela uma potência”, explica um dos maiores especialistas na história do município.
A partir da visão de tachar Ilhéus como uma cidade com “potencial” daria a ideia de possibilidade, um lugar que ainda não alcançou elementos suficientes a fim de se consolidar como tal. Então, partindo dessa concepção, quais seriam alguns pontos que firmam Ilhéus como potência?
Relevância Histórica
Fundada em 1534, a Capitania de São Jorge dos Ilhéus nasce junto com a história colonial do Brasil, possuindo extensão que alcançava a região de Brasília. Para além dos fatos iniciados a partir do ciclo do cacau, narrados para todo o mundo nos romances de Jorge Amado, as terras ilheenses foram palco de acontecimentos históricos memoráveis. Um dos exemplos é a primeira greve do Brasil, realizada entre 1789 e 1791, a partir do levante dos escravizados do Engenho de Santana.
Turismo de eventos
Com mais de 4,5 mil metros quadrados de área construída, dois auditórios: Jorge Amado, com capacidade para 1.250 pessoas, e Nacib, para até 430 pessoas, o Centro de Convenções de Ilhéus suporta eventos de todos os portes. O equipamento – subutilizado na maior parte do ano – tem vivido seu ponto alto com a realização do Festival Internacional do Chocolate e Cacau.
Há ainda os eventos religiosos que, apesar da pandemia de Covid-19, a qual impede aglomerações, sobrevivem como parte do patrimônio imaterial ilheense e símbolo do respeito à diversidade religiosa. Um dos grandes símbolos é a Puxada do Mastro de São Sebastião, em Olivença.
Turismo náutico
O nome da cidade não poderia ser mais sugestivo para esse tipo de atividade. São ilhas e rios a serem explorados. Ilhéus ainda possui mais de 100 quilômetros de costa e 70 quilômetros de praia. Entre as opções de passeios, há o Parque Marinho da Pedra de Ilhéus, os passeios de chalana com destino ao Rio do Engenho e de barco para a Lagoa Encantada.
O ciclo do cacau
O auge, a decadência e a nova retomada do cacau são contadas no patrimônio histórico de Ilhéus. O imaginário formado a partir das histórias contadas nos livros de Jorge Amado também fascinam sobre a rotina de produção do fruto que gerou riqueza e também foi responsável pelo declínio econômico da Princesinha do Sul, como era conhecida Ilhéus.
Hoje em dia, com uma nova visão sobre o processo produtivo, é possível visitar fazendas de cacau e conhecer todas as etapas de fabricação do chocolate, da árvore até a barra.
Durante visita técnica do projeto Global Business, realizado em 2019, a empresária do setor hoteleiro das Ilhas Maldivas, Maryam Shakeela, ficou encantada com a estrutura que Ilhéus disponibilizava. “Vocês têm uma grande diversidade nas mãos. Basta saber como aproveitar. Nós, nas Maldivas, não dispomos de água doce como vocês e hoje conseguimos ser referência em turismo”, declarou. Ela ainda destacou as limitações no atendimento dos estrangeiros. “Às vezes eu conseguia pedir uma água. Mesmo com extrema boa vontade dos funcionários, não há treinamento bilíngue”, complementou.
Esperar que o visitante se encante apenas pelas belas praias e exuberância natural de Ilhéus não tem sido suficiente. Garantir a chegada de visitantes por dispor de rodoviária, porto e aeroporto também não. Nos últimos anos, a cidade vem perdendo posições no ranking de destinos turísticos mais procurados da Bahia. Se antes ficava atrás apenas de Salvador e Porto Seguro, hoje vem perdendo espaço para Itacaré, Praia do Forte e Morro de São Paulo.
Para José Nazal, que se autodeclara um apaixonado por Ilhéus, é preciso ampliar a visão sobre a cidade. “O visitante quer conhecer a nossa história. É o estudo que cada cidadão e cidadã tem que buscar”, afirma. E, a partir dessa urgência, é possível compreender a célebre frase de Heródoto: “Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro”. Que Ilhéus alcance seus 500 anos pensada e tratada como a potência turística que é!
Comentários
Sem Comentários