Eu não tô aqui pra acabar com a autoestima de ninguém, mas há coisas que precisam ser ditas. Na semana que passou, li vários comentários de pessoas que se referiam a mulheres de 30 anos (30, minha gente!!!) como velhas e praticamente fora do mercado de sedução, já sem chances de escolha, condenadas a uma xepa afetiva, a ficar com quem aparecer. Tipo último suspiro feminino. Depois, é só solidão. Isso, dito por homens. Jovens? Nem todos! Pior que não!
Então, não que eu quisesse, mas estou sendo obrigada a tocar num assunto delicado. Talvez, forte demais para frágeis egos masculinos. Não sei se alguém já se atreveu a falar sobre isso, não sei como ficará o patriarcado depois dessa revelação, não sei se duplicaremos o número de homens deprimidos. Não sei. Mas a verdade precisa ser dita, doa a quem doer: homens também envelhecem. Sim. É isso mesmo que você leu.
Mudam os gestos. Muda a marcha. E o implacável peso dos anos não é algo que se consiga esconder. Nem com cirurgia plástica, nem com tênis de gatinho, nem com carro esportivo, nem com coque samurai. Não que não se possa tentar. Mas não funciona, em geral. Nada disso esconde a idade.
Jovens mesmo, caros leitores, somos lá pelos 20 anos. Homens e mulheres de carne tenra e pele brilhante no ápice da atividade sexual. Depois disso, é bom ir colocando café no bule, preparando uma boa prosa, tratando de se fazer interessante porque, inevitavelmente, todos – homens e mulheres – teremos que substituir fôlego por know-how.
E qual o problema? Nenhum. Estranho é achar que envelhecer é um processo exclusivamente feminino. Estranho é não ver o tempo passando na própria carne. Uma viagem coletiva que produz homens de comportamento risível. Um problema de autoimagem distorcida que precisaria de equipes psiquiátricas trabalhando sem descanso. Um caso de insanidade nacional.
Eu tenho 43 e todas as implicações da minha idade. As boas e as más. E tô aqui olhando a xepa compulsória das moças de 30 anos. De cima, com alguma piedade. Dos homens, delas, dos dois lados. Talvez, porque o tempo já me tirou do jogo quando trouxe, junto com as rugas, alguma tranquilidade. Talvez, porque eu já tenha entendido que amor é encontro e não mercado. Tá vendo? Envelhecer tem vantagens.
Flavia Azevedo é produtora e mãe de Leo
Fonte: Correio
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