Steven Choi explica por que o comportamento dos brasileiros pode adiar um futuro de carros sem motorista no país.

Atual engenheiro da divisão de carros autônomos do Uber e ex-Google, o americano Steven Choi desembarcou em São Paulo nesta semana para uma palestra e, logo nos primeiros minutos em solo, percebeu um obstáculo “tupiniquim” para seu projeto de vida: caos e desrespeito às leis de trânsito.

“Muitos carros passando no farol vermelho, pessoas atravessando fora da faixa. Os brasileiros precisam seguir as regras para ter carros autônomos; caso contrário, não vai funcionar.”

A questão é que os veículos sem motorista são controlados por inteligência artificial, que aprende com o que acontece ao redor. Eles estão programados para parar caso um pedestre cruze a rua repentinamente, mas, se isso ocorrer muitas vezes, os robôs aprenderão de forma errada.

“Albert Einstein descobriu a fusão atômica para resolver um problema de energia, mas outros cientistas transformaram a ideia em uma bomba atômica.”

“O carro autônomos são máquinas. Se você inserir os dados certos, vão funcionar bem, mas, se forem os dados errados…”

Mesmo com a comparação alarmante, Choi não é pessimista. Pelo contrário, ele acredita que, fora o “probleminha” de não seguir as leis de trânsito, o Brasil está preparado para ter carros que dirigem sozinhos e o impacto positivo nas nossas vidas será enorme.

Para o engenheiro que já trabalhou no laboratório de projetos secretos do Google, todas as empresas envolvidas no desenvolvimento dos carros autônomos têm um único objetivo: salvar vidas.

Acidentes de trânsito são a maior causa de morte de jovens entre 15 a 29 anos no mundo, com mais vítimas que Aids, gripe e dengue juntas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). São cerca de 120 brasileiros por dia.

Um levantamento do Detran-SP apontou que 94% dos acidentes com mortes no estado foram causados por falha humana. Ou seja, podem ser evitados.

“Motoristas humanos matam milhares de pessoas todos os anos, mas quando um carro autônomo mata uma pessoa é um escândalo.”

Estranhamento vai passar

Para Choi, embora a tecnologia assuste, é apenas uma questão de tempo que as pessoas entendam que o carro guiado por computador é mais seguro do que um dirigido por humano.

“Quando o primeiro trem a vapor começou a rodar, as pessoas estavam céticas. Elas usavam cavalos e carruagens para se locomover.”

“Quando o avião nasceu, muitas pessoas tinham medo de voar, mas hoje é bastante comum. As pessoas superaram essas barreiras.”

Além do medo humano, os “carros-robôs” precisam aprender a desviar das legislações rígidas. Nos Estados Unidos, um projeto de lei quer acelerar a chegada dos veículos sem motorista, enquanto alguns estados são mais liberais e outros proíbem os testes.

No Brasil, há pouca discussão sobre o tema. Pode ser falta de interesse ou então uma questão de prioridades.

Com foco em tributos e eficiência, o plano industrial do governo para o setor automotivo, chamado de Rota 2030, ainda não saiu do papel e não há nenhuma perspectiva de regras para os autônomos.

“É preciso questionar os políticos e pedir o apoio a essas tecnologias. Imagine o dinheiro público que será economizado na saúde, no tratamento de acidentes de trânsito, e no transtorno financeiro e pessoal das vidas que são perdidas.”

Uma estimativa dessa economia foi dada em um estudo do Ipea, com base em dados de acidentes da Polícia Rodoviária Federal. Em 2014, o Brasil perdeu 8.227 vidas em 169 mil acidentes registrados apenas nas estradas federais, com um custo de R$ 12,3 bilhões à sociedade.

Quando vai vender?

Muitas empresas disputam a “corrida” pelo pioneirismo dos veículos autônomos. Há diversos deles em testes, inclusive nas ruas dos Estados Unidos, Europa e Japão. Os do Uber e da Waymo, empresa-irmã do Google, já transportam pessoas comuns, em caráter experimental.

Mas nenhum carro autônomo está perto de ser vendido. Há diversas estimativas das empresas para quando isso vai acontecer. A maioria fala que será já no começo da próxima década.

“Não posso dar uma data exata de quando os carros autônomos chegarão de verdade, mas acredito que será mais cedo do que as pessoas esperam”, diz Choi.

E qual empresa vai vencer a corrida? Para o engenheiro, ser o pioneiro não importa tanto.

“Aposto no Uber, por isso que mudei para lá, mas não precisa ser o primeiro, precisa fazer direito. Ainda é especulação, mas acho que as montadoras e as empresas de tecnologia vão trabalhar juntas, até porque haverá uma necessidade de padronização para os veículos se comunicarem”

Fonte: G1

 

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