A bicha lacrativa é um personagem desafiante’, afirma o ator de Ilhéus

Com roupas estampadas, megahair alourado, sobrancelha feita, unhas de pantera e trejeitos espetaculosos, o cabeleireiro Nick, o Nicácio de O Outro Lado do Paraíso, pode parecer familiar. A ‘bicha lacrativa’ da novela das 21h da TV Globo representa muitos homossexuais afeminados que fogem do padrão ‘gay discreto’ esperado por grande parte da sociedade. Desafia o estereótipo do  ‘macho alfa’, luta contra a homofobia e ainda enfrenta preconceitos na própria comunidade LGBT. 

Dono do Star Beauty, o mais famoso salão de beleza de Palmas, o sensível e divertido Nick é o atual desafio na carreira do ator baiano Fábio Lago. Acostumado em incorporar papéis de mulherengos na televisão, ele vive pela primeira vez um personagem gay. Na trama, torna-se confidente da protagonista Clara (Bianca Bin), de quem será cúmplice no projeto de vingança. “Ele é alegre, alto-astral, tem muita cor e brilho, mas não é só purpurina. Sua sensibilidade é desafiante. Nick tem uma solidão, seus dramas e dores, além do universo pessoal interessante”, afirma Lago. Ele, que já foi temido pelo traficante Baiano, em Tropa de Elite, torce para seu personagem encontrar o tão sonhado príncipe encantado: “Vão se passar dez anos e estamos na expectativa das transformações”, diz.

Fábio Lago destacou-se pelo violento traficante Claúdio, mais conhecido como Baiano, em Tropa de Elite (2007)

Enquanto elas não acontecem, seu desafio diário é fugir do clichê. “Ao mesmo tempo em que Nick é comum, é uma caricatura das figuras que a gente conhece. Fazer algo que não está feito é a minha motivação. Meu grande objetivo é deixá-lo humano. Tenho que colocar nele toda a bagagem que construí. Preciso passar veracidade para as pessoas. Enquanto  perceberem além da interpretação e  Nick for visto de forma humana, estou cumprindo meu papel”, fala. 

Processo criativo
Para construir o personagem, o ilheense se inspirou em amigos e familiares que marcaram sua vida. “São muitas referências de diversas pessoas que conviveram comigo.  Os gritos que Nick dá são inspiradas no meu primeiro diretor de teatro, Pedro Matos”, exemplifica o artista. Sua mãe, Dona Darcy, de 75 anos, que foi cabeleireira em Ilhéus durante 40 anos, também é referência. “Dela puxei o carinho com os clientes e o astral. Minha casa foi salão durante anos”, conta. 

A referência estética foi um achado da figurinista Ellen Müller: Carlinhos Beauty, um dos cabeleireiros top de Brasília, serviu de inspiração para o cabelo, maquiagem e as roupas de Nick:

“Ele é o glamour em pessoa. Nicácio gosta de luxo, mas é ‘bicha pobre’ e emergente. Fala errado e ama revistas de fofoca”

 A construção do personagem envolveu mudanças físicas. Fábio passou 14 horas colocando megahair, deixou as unhas crescerem e está fazendo a sobrancelha. “Hoje já me acostumei. O cabelo vai crescendo, o mega se distancia da raiz e fica mais confortável. Outro dia tirei e senti  falta… Não é que queira ficar com ele, mas a cabeça fica vazia. A adaptação foi meio difícil. No inicio incomodava demais para dormir. Como nunca tive unhas grandes, me aconselharam a usar sebo de carneiro para deixá-las mais rígidas. Hoje deixo o esmalte. Quem nunca teve unha grande, no começo arranha até coçando. Machuquei   a cara toda ajeitando o cabelo ”, conta. 
Fonte: Correio

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