Um prato inusitado chamou a atenção no Chocolat Festival 2025: língua bovina ao molho de chocolate. A criação do chef André Cabral uniu técnica, ingredientes brasileiros e ousadia. O resultado foi uma combinação de sabores que surpreendeu até os paladares mais conservadores.
A inspiração para o prato nasceu do desejo de exaltar a identidade nacional. “Queria criar uma explosão de identidade brasileira. Unir o sabor encorpado e a memória afetiva da minha infância, da nossa cozinha de raiz, com a ousadia revolucionária de temperar com chocolate gourmet”, explica o chef. A escolha da língua, corte que divide opiniões, foi proposital: tratava-se de ressignificar algo tradicional, transformar em arte culinária o que muitos ainda veem com preconceito. A carne foi preparada até atingir a maciez ideal, derretendo na boca, e coberta por um molho que combinava chocolate de origem 50% cacau brasileiro, baunilha do cerrado e cumaru – a “baunilha da Amazônia”.
A construção do prato foi o ponto alto de uma trajetória que começou em 2018, quando André apresentou um filé mignon empanado com chocolate 100% no mesmo festival. “Naquele momento, quebrei o paradigma de que chocolate é só para sobremesa e provei: ele é um tempero versátil, capaz de transformar pratos inteiros”, relembra. O licor de baunilha entrou como elemento para suavizar a gordura da língua, com sua elegância aromática. E o cumaru deu o toque terroso e defumado que ligou todos os sabores. O equilíbrio não veio fácil: foram horas de testes até encontrar o ponto ideal onde nenhum ingrediente se sobrepunha ao outro.
A reação do público foi, nas palavras do próprio chef, “absolutamente surpreendente”. Os visitantes provaram sem saber qual era o corte da carne. Quando descobriram que era língua de boi, veio a surpresa, seguido da aprovação. “Muitos vieram com aquele preconceito clássico, mas saíram completamente convertidos – provando que, quando bem preparada, a língua é um tesouro de textura e sabor. ”
O sucesso foi tanto que a receita será adaptada para compor o cardápio do Oxentesô, restaurante do chef, como prato assinatura. A ideia é levar essa experiência para outros eventos e mostrar, a mais pessoas, o potencial criativo da gastronomia brasileira. “Quero que mais pessoas descubram como nossa cultura alimentar pode ser surpreendente”, afirma.
Participar do Chocolat Festival, foi uma experiência que o chef descreve como “pura magia gastronômica”. Para ele, Ilhéus pulsa com a energia do chocolate e o festival é a prova viva de que o ingrediente vai muito além do mundo dos doces. “Sou eternamente grato ao visionário Marco Lessa por acreditar no meu trabalho. Cada prato foi uma história, cada degustação uma emoção nova. Isso é o que me faz amar a gastronomia.”
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O chef André Cabral é formado em Ciências Econômicas pela UFV/Viçosa – MG e em Gastronomia pela UNIT/SE, e ao longo da sua carreira construiu uma expertise multidisciplinar que une o universo da gastronomia à gestão. Especializado em Gastronomia: Técnicas e Habilidades de Cozinha, pós-graduado em Cozinha Brasileira e com formação de nível superior em Gestão em Gastronomia. Essa combinação de conhecimentos o permite transformar a culinária em uma experiência única, aliando técnica, criatividade e visão estratégica.