Unidade reforça triagem por gravidade e alerta para importância da vacinação contra a gripe
O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, registrou um aumento expressivo nos atendimentos de emergência pediátrica nos últimos meses. De acordo com dados da unidade, o número de crianças atendidas saltou de 861 em janeiro para 1.716 em maio — um crescimento de 99%. O maior volume de casos está relacionado a síndromes respiratórias, reflexo do período sazonal que se estende de abril a julho.
Somente em maio, 457 pacientes foram diagnosticados com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), sendo 181 deles considerados casos graves com sintomas gripais. Os principais sinais clínicos incluem febre, tosse seca, dores no corpo e dificuldade respiratória progressiva, o que pode levar a complicações pulmonares.
Reflexo nas UTIs: bronquiolite afeta também recém-nascidos
Na UTI Pediátrica, o impacto do aumento de casos também é visível. A unidade, que recebe pacientes de até 15 anos, tem acolhido recém-nascidos com quadros graves de bronquiolite — uma inflamação pulmonar geralmente provocada pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR).
“Na última semana, recebemos uma criança com apenas 13 dias de vida”, relata Márcio Demétrio, coordenador da UTI Pediátrica. Ele explica que a bronquiolite costuma atingir seu pico entre o terceiro e o sétimo dia de sintomas e, em muitos casos, há necessidade de intubação por até duas semanas.
Segundo o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), entre janeiro e maio foram enviadas 54 amostras ao Laboratório Central (Lacen), em Salvador. O balanço mostra 28 resultados positivos, sendo 13 para Vírus Sincicial, 6 para Rinovírus, 3 para dengue, 2 para COVID-19, 2 para DENV2, 1 para Adenovírus e 1 para Meningite.
Triagem por gravidade: Protocolo de Manchester
Diante da alta demanda, a triagem segue rigorosamente o Protocolo de Manchester — método internacional que organiza o atendimento com base na gravidade do quadro clínico, e não pela ordem de chegada.
“A cada cem atendimentos, 83 são classificados como Azul ou Verde, ou seja, casos que poderiam ser resolvidos em unidades básicas de saúde ou UPAs”, explica a enfermeira Iasmine Maiara, coordenadora da emergência pediátrica. “Isso contribui para a superlotação, mesmo com nossa equipe atuando com foco total na preservação da vida.”
O protocolo utiliza cores para definir o nível de urgência. Pacientes em situação crítica são atendidos imediatamente, enquanto os casos mais leves podem aguardar ou ser encaminhados para outras unidades.
Gestão de leitos e prevenção
Para garantir o acolhimento de todos os pacientes, a direção do hospital adotou uma gestão intensiva dos leitos. Segundo a diretora-geral Domilene Borges, foram criadas alas específicas para entrada, tratamento e retaguarda, o que reduz o risco de infecções cruzadas e permite maior rotatividade nos leitos de UTI.
“Estamos organizando as internações de forma estratégica, o que nos permite liberar leitos conforme a evolução dos casos e garantir atendimento contínuo”, afirma Domilene. Ela também destaca a importância da vacinação contra a gripe como principal medida preventiva após a recuperação dos pacientes.
Referência regional
Inaugurado em dezembro de 2021 pelo Governo da Bahia, o Hospital Materno-Infantil é gerido pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS). É a única maternidade 100% SUS do sul da Bahia e a única do estado habilitada para o atendimento especializado a povos indígenas.
A unidade conta com 105 leitos, abrangendo desde partos de baixo e alto risco até UTIs pediátrica e neonatal. Já ultrapassou a marca de 10.200 partos realizados, consolidando-se como referência em saúde materno-infantil na região.