Por Nilson Lattari*
Provérbios estão na origem da sabedoria popular. É através de provérbios, através dos tempos, que lições de vida são passadas de gerações a gerações. Mas, se juntarmos os provérbios em uma trança narrativa chegaríamos a algum lugar? Talvez sim, talvez não.
Provérbios são divertidos, engraçados, sérios, contém lições de vida e transmitem um recado. Poderiam ser uma declaração de apaixonado? Provérbios são pensamentos que trafegam pelo tempo, como um vento que roda indefinidamente pelo nosso universo, perpetuando as tais lições de vida ou de encantamento.
E como eu gostaria que palavras lançadas ao vento pudessem navegar indefinidamente até encontrar seus ouvidos e seduzissem você com o afagar de sua penugem, da cantoria do palavreado. E que elas chegassem em revoada e se enrolassem nos seus cabelos e você risse de contentamento.
E que elas cheguem rápido, mesmo que a pressa seja inimiga da perfeição, porque mais valeria este pássaro na mão do que dois apaixonados indecisos voando por aí. E se, a cavalo dado não se olha os dentes, com certeza este cavalo que chega, branco e suarento, vai lhe trazer um sorriso indecente. Até porque quem ama cuida, e pedirei que ele tenha cuidado ao chegar.
E que chegue cavalgando furtivamente, afinal a ocasião faz o ladrão, e gostaria que você me deixasse ocasionar o roubo do seu coração. Logo, dai a mim o que me pertence de direito, até porque quando um não quer, dois não brigam.
E insistirei sempre em você porque água mole em pedra dura, tanto faz que convence alguém a amar e ser amado.
Por este amor quero tudo de você sem medo de perder, vou com sede ao pote, na certeza de que todo querer não pode sempre perder. A vida nos traz sentido quando insistimos no que queremos, porque de grão em grão se enche o papo, e comendo pelas beiradas, finalmente se vence a batalha.
Você vive no jardim da minha imaginação e, portanto, como não há rosas sem espinhos, e a vida é arriscar, quem não arrisca não petisca um beijo roubado, falar é fácil difícil é fazer, e fazer é o que eu quero, o que importa é dizer, não esconder o que se sente.
Não me desprezes, nunca diga desta água não beberei. Me escaldei como um gato e não tenho medo de água fria. Mesmo quem com ferro fere, e, possivelmente, sairá ferido, tenho que dizer que ninguém morre de véspera, e arriscar na vida tem um sentido.
Sinto, logo existo, e, portanto, quanto mais amor eu dedico, mais certo estou de estar no redemoinho. Vou com cuidado, vou pela sombra, conheço as pedras no caminho.
Quem espera sempre alcança, por isso vou devagar para chegar ao longe, no seu distante coração, e tapo os seus olhos com beijos para que ele não sinta que estou perto e logo corro para abraçar você.
Quem espera sempre alcança, e nessa esperança eu penso em você, talvez você me ache feio, mas bonito quero lhe parecer.
Nilson Lattari, colunista e colaborador voluntário na Folha da Praia Online, é graduado em Literatura pela UERJ, especializado em Estudos Literários pela UFJF. Foi o primeiro colocado em crônicas no Prêmio UFF de Literatura, 2011 e 2014, e terceiro colocado em contos pelo mesmo prêmio em 2009. Primeiro colocado em crônicas prêmio Darcy Ribeiro – Ribeirão Preto, 2014. Finalista em livro de contos Prêmio SESC de Literatura 2013, finalista em romance Prêmio Rio de Literatura, 2016, além de várias menções honrosas em contos, crônicas e poesias.
***** Quarto colocado no IX Concurso Pérolas da Literatura 2018 – Guarujá-SP
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