Por Janaína Morais Barreto

Como se não bastasse a crise do combustível que afeta todo o país, alguns artistas estão gravando vídeos convocando o povo para pedir as Diretas Já, com a suposta intenção de zelar pela “democracia”. Mas, que democracia é esta, em que os nossos “representantes” aumentam seu próprio salário, na calada da noite, em meio ao caos nacional, sem sequer utilizar mecanismos legais para consultar o povo através de um plebiscito? Óbvio que ninguém concordaria, tendo em vista todas as benesses proporcionadas pelos cargos políticos.

Que democracia é esta, em que os representantes do povo deixam esse mesmo povo morrer em filas de hospitais, sem dignidade, sem respeito com a sua condição humana? Onde deixam quase 60.000 pessoas serem assassinadas em um único ano (2017) por falta de investimento em segurança pública eficiente? Onde a miséria do povo é explorada em época de eleição, e o voto é comprado com cesta básica? Onde “líderes sociais” enriquecem às custas de um povo tão sofrido e trabalhador?

Que democracia é esta, em que o povo mais pobre vive “dominado pela barriga” (ou seja, pelas suas necessidades básicas) através de medidas paliativas mal planejadas e alvos de uma corrupção absurda que alcançou níveis alarmantes? Quando não resolvemos a raiz do problema (deficiência na educação, saúde, segurança…), ficamos a mercê dessas medidas que só servem para enganar o povo e angariar votos para políticos salafrários encherem seus bolsos, malas e cuecas com nosso suado dinheiro.

Que democracia é esta, em que a tão aclamada liberdade de expressão se traduz em agir sem pensar na responsabilidade de ser um indivíduo pertencente a uma sociedade em que “o nosso direito acaba quando o direito do outro começa”? Exemplo claro disso foi um manifestante da Parada Gay introduzir uma cruz no ânus, ignorando o dever de respeito à religiosidade alheia. Liberdade sem responsabilidade é libertinagem, e não é disso que precisamos em um país que anseia pela evolução intelectual de seu povo.

Que democracia é esta, em que o povo, que deveria ser soberano, se deixa levar pelas suas paixões políticas a ponto de defender cegamente “representantes” ou candidatos que estão claramente imersos em teias de corrupção ou que possuem um caráter notadamente duvidoso? Um bom soberano deve utilizar sempre sua capacidade de reflexão, as ideologias não podem cegá-lo diante de uma realidade que está diante de seus próprios olhos.

Democracia não se resume apenas ao direito de votar em quem quiser. A democracia é um governo “do povo, pelo povo e para o povo”, no entanto, há um bom tempo seu sentido tem sido distorcido no Brasil, tanto nos discursos demagógicos quanto no campo prático. Os representantes insistem em esquecer que nossa democracia é semidireta (o povo deve participar também), porém, eles se aproveitam do fato de que a maior parte desse povo sequer entende o que isso significa.

Logo, me pergunto: onde está a democracia quando o povo recebe migalhas enquanto aqueles que deveriam nos representar estão governando apenas para si? Onde está a democracia quando os canalhas políticos dominam os mais pobres “pela barriga”? E principalmente, onde está a democracia, se quem deveria exercê-la mal entende seu significado? Não é à toa que vivemos uma ditadura disfarçada. Oras, onde já se viu um soberano (povo) ser tão humilhado?

Atualmente, os caminhoneiros estão abrindo espaço para o redescobrimento da nossa democracia. Porém, os oportunistas querem se aproveitar desse momento com um falso discurso democrático, querendo a mudança apenas do Presidente da República, como se só o governo dele fosse o problema. Acontece que o problema é nitidamente mais profundo. Precisamos de uma reforma geral no sistema político e educacional, mas, além disso, trazer de volta o nosso verdadeiro sentimento de amor à Pátria é imprescindível para que não nos deixemos levar por esses discursos ideológicos.

Nesse sentido, o Brasil necessita de um reajuste moral e ético, voltado aos princípios basilares que nos elevem como nação. As crianças devem ser ensinadas desde cedo sobre a importância de serem cidadãos, de se expressarem sem ferir o direito do outro, de sermos sujeitos de direitos e deveres, capazes de reivindicar aquilo que merecemos longe das enganosas “migalhas” oferecidas para tapear a nossa dura realidade social. O atual sistema está contaminado por todos os lados, se dependermos dos três poderes nada vai mudar (já sabemos disso), nenhuma mudança efetiva vai ser causada pelos nossos políticos baderneiros. Eles não vão decidir nada que vá contra seus interesses.

Sendo assim, a meu ver, não há alternativa, senão um período de exceção em que a “casa” possa ser arrumada, as reformas possam ser feitas, as coisas sejam colocadas no seu devido lugar, e a ordem seja restabelecida antes do poder ser devolvido ao povo, que, por sua vez, precisa estar mais maduro e mais consciente para entender a importância da democracia, bem como, a responsabilidade trazida por esta. Saber onde queremos chegar, como indivíduos e como nação, é extremamente importante para determinar qual caminho devemos seguir sem fraquejar, com firmeza e linearidade nas nossas ações, tendo em vista que a maturidade política é essencial em um bom sistema democrático de direito.

Charge: Divulgação

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