Por Reinaldo Soares*
No último dia 10 de agosto, foi comemorado os 102 anos de nascimento do escritor Jorge Amado.
Tendo a cidade de Ilhéu e a saga do Cacau como seu espaço e tema inspiradores, Jorge Amado é um dos raros escritores que conseguiu influenciar e interferir na realidade com sua ficção literária. Com ele, em vez da arte imitar a vida, foi à vida que passou imitar a arte.
Publicado em 1958, há exatos 60 anos, o romance Gabriela Cravo e Canela, ao retratar de forma ficcional a Ilhéus de 1920, influenciou profundamente nos aspectos culturais, sociais, econômicos e políticos de Ilhéus a partir de 1970.
Traduzido em mais de 30 idiomas, transformado em série, novela e filme, Gabriela Cravo e Canela tornou-se um clássico da literatura mundial.
Com todo o sucesso e exposição, a história de Gabriela foi musicalizada por Dorival Caymmi e interpretada por Gal Costa.
Com o verso “Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim…”, Caymmi traduziu uma personagem que não conseguia se adaptar aos costumes da época e se recusou a moldar seu jeito espontâneo para se enquadrar na cidade em que vivia. Nascia, a Síndrome de Gabriela, que influenciou um modus vivendi que foi perverso para Ilhéus e região.
A Síndrome de Gabriela acontece quando uma pessoa acredita que não precisa mudar ou adaptar seu comportamento a situações que não lhe agradam. Se por um lado esta é uma atitude positiva, que demonstra autoestima e personalidade, por outro lado, pode ser perigoso, pois a recusa a mudanças de padrões e comportamentos pode cair em uma zona de conforto, perdendo diversas oportunidades.
A Síndrome de Gabriela está relacionada a uma forte resistência ao novo e à dificuldade em aceitar mudanças. Pessoas que apresentam o problema não conseguem enxergar que sua forma de ser e agir podem estar, na realidade, sabotando a si mesmo em diferentes momentos da vida. O principal motivo que gera esse tipo de comportamento é o medo da mudança.
Desde os tempos áureos do Cacau, Ilhéus não conseguiu assumir o protagonismo regional.
Com tantas potencialidades e uma infraestrutura consolidada, a cidade não avança e não consegue inclusive, garantir o básico necessário para sua população, que nos últimos anos vem diminuindo, sendo o município da Bahia que mais perdeu população e eleitores.
Na mente humana existe a chamada falsa memória. É quando incorporamos, sem perceber, o conteúdo do que assistimos, ouvimos ou lemos, repetindo como se fosse nosso. A síndrome de Gabriela tem nos acompanhado e nos levado a uma paralisia danosa.
Precisamos incorporar nossa autocrítica, fazer uma autoanálise que permita conhecer nossos pontos fortes e os que precisam ser melhorados. Há pessoas, que simplesmente não mudam por interesse pessoais. Infelizmente, vemos diversos casos na política, nas entidades de classe, em cargos de comando e em outros ambientes onde estas pessoas se beneficiam de alguma forma com esta estagnação. Precisamos nos abrir para a mudança, oportunizar o novo.
Fique alerta, se você também não possui a Síndrome de Gabriela. O primeiro sintoma é começar a achar que tudo está bom do jeito que está e que a mudança depende sempre do outro e nunca de você.
* Reinaldo Soares é Mestre em Cultura e Turismo pela UESC/UFBA, Ex- Presidente do Conselho Municipal de Educação de Ilhéus- Diretor do IBEC, Palestrante, Professor da Pós-Graduação da FACSA/IBEC e do Colégio Estadual Professora Horizontina Conceição. E-mail: profreinaldosoares@hotmail.com
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