Por Nilson Lattari*
Um dia desses, estava na sala de espera de uma academia de Pilates, essa arte de se expor em aparelhos semelhantes às camas de torturas da Idade Média, com seus penduricalhos caindo do alto, esticadores sustentados por molas, e exercícios de contorcionismos em formas abauladas, quando me deparei, à minha esquerda, expostas em cabides, diversas revistas dessas que mostram em suas capas fórmulas consagradas e definitivas de emagrecimento.
Emagrecer, hoje, é o grande mistério que abastece o inconsciente coletivo. Todos e todas se sentem gordinhos, carregadores de pochetes, breves a se transformar em pneumáticos infláveis ao redor do corpo, isso de acordo com as expressões que os descontentes empregam para si mesmos.
Mas, não é esse o caso discutir os eufemismos balofos. O interessante são as manchetes anunciando as fórmulas milagrosas, com chás emagrecedores, ou secadores, na linguagem dos descontentes, ou então a combinação fantástica de frutas, cereais novos e misteriosos, misturas de ingredientes recentemente descobertos pela medicina dos leitores, no seu boca a boca espalhando as últimas novidades.
Cada uma delas garante, sem sombra de dúvida, um tempo pré-definido de uma semana, precisamente o tempo de duração até o próximo lançamento da revista, com outra fórmula milagrosa e fotos de leitoras super felizes com as aplicações de emagrecimento. As revistas vendem aquilo que todos desejam comprar, a qualquer preço.
A curiosidade minha veio, justamente, dessa combinação de manchetes, enfileiradas nos cabides. Resolvi somar todas elas e cheguei à conclusão que ao final de dez a doze semanas, as candidatas e candidatos a emagrecimento mágico teriam desaparecido no ar.
Não. Acredito que qualquer um que faça essas contas chegará a esta brilhante conclusão. Há quanto tempo procuramos fórmulas mágicas para a solução dos nossos problemas? Desde encontrar o corpo perfeito, na busca do amor, na busca do emprego ideal, na busca de um sentido de vida, na busca de explicações de nossas crenças. E as procuramos nas bancas de jornal, ou pelo menos uma parte, quem sabe grande de nós.
Antes, a leitura dos horóscopos nos dava uma esperança em adivinhar o futuro, depois o aparecimento dos gurus, e agora a medicina é a aposta, com uma sociedade cada vez mais medicamentosa.
Capas de revistas, conselhos de famosos e famosas substituem as bulas dos remédios, e muitas vezes os profissionais da medicina.
Somando tudo isso, chegamos à conclusão que estes tempos anunciam os tempos das expectativas, que estão muito além das nossas esperanças, criando um mundo cada vez mais imperfeito, na medida em que nosso desejo de perfeição se aperfeiçoa.
* Nilson Lattari, colunista e colaborador voluntário na Folha da Praia Online, é graduado em Literatura pela UERJ, especializado em Estudos Literários pela UFJF. Foi o primeiro colocado em crônicas no Prêmio UFF de Literatura, 2011 e 2014, e terceiro colocado em contos pelo mesmo prêmio em 2009. Primeiro colocado em crônicas prêmio Darcy Ribeiro – Ribeirão Preto, 2014. Finalista em livro de contos Prêmio SESC de Literatura 2013, finalista em romance Prêmio Rio de Literatura, 2016, além de várias menções honrosas em contos, crônicas e poesias.
Comentários
Sem Comentários