Por Anna de Oliveira
Os viventes da cidade de Ilhéus ou até mesmo aqueles que passam uns tempos fora da terra e depois retornam, certamente já devem ter percebido que os espaços públicos, cada vez mais, têm dado lugar ao que se pode designar por toldos truck’s. O que seria isso? Toldos fixos e carros de comida estacionados por tempo indeterminado estão preenchendo locais urbanos que pertencem ao município de Ilhéus, sobretudo em lugares que integram o centro histórico.
Muito já se sabe sobre a história de cidades que surgiram ao redor das feiras medievais, rotas de comércio, na época das Grandes Navegações. Não havia muito planejamento na formação da urbe naqueles tempos, as cidades iam se formando onde os grupos mais interagiam e ali construíam seus lugares comuns.
Porém, em Ilhéus, que é uma cidade formada e com 483 anos, o que se percebe é que parece estar havendo o retorno das feiras livres. Um ar provinciano paira sobre a princesinha do sul, dando à esta uma aparência um tanto maltratada.
No gramado da Avenida Soares Lopes e também em passeios, toldos ocupam permanentemente diferentes pontos, a maioria deles destinada à venda de comidas durante a noite. O conjunto de toldos próximo à Catedral servem durante o dia até como estacionamento com sombra para veículos, e à noite transformam-se em praça de alimentação próxima ao equipamento nada cheiroso da Embasa.
Já na Avenida Dois de Julho, em um tombado patrimônio histórico da cidade, tem dois toldos enormes, e ali mesmo, durante o dia, são vendidas verduras, hortifrútis e produtos afins.
A praça Castro Alves, uma das mais conhecidas e frequentadas da cidade, popularmente chamada como Pracinha da Irene, há anos incorporou os trailers que ali ficam estacionados o tempo todo.
Situação parecida aconteceu com o local situado ao final da Avenida Lomanto Júnior, no Pontal, onde há um gramado e parquinho – diga-se de passagem um suposto parquinho, pois encontra-se totalmente danificado e inutilizado. As crianças, que tinham todo o direito de ali ficar e brincar, tiveram que dar licença aos trailers que naquele local se estabeleceram, se espalharam, e ocuparam todo o gramado com numerosas mesas e cadeiras para seu público consumidor.
Diversos food truck’s tomaram conta do espaço, inclusive um caminhão de carga pesada que vira e mexe tem feito da avenida seu estacionamento. Quem passa pelo local no final da tarde, não tem o direito de ver o lindo pôr-do-sol que a baía do Pontal proporciona naquele ângulo, porque o acostamento da via está com trailers estacionados ali ad eternum. No período noturno, caminhonetes, carros e motos ficam aglomerados em todo o perímetro da área. Há dificuldade no trânsito de pessoas na calçada, e também dos veículos na pista. Isto sem falar na sujeira acumulada debaixo desses carros, em razão da dificuldade de acesso ao local para a limpeza.
O correto é que esse tipo de estabelecimento deve ser itinerante. Chega, arma o espaço, vende o produto, limpa tudo, e depois vai embora. E no outro dia realiza novamente todo o procedimento. Mas ocupar aquilo ali o tempo todo, não dá. O espaço é da coletividade, e não do particular.
O mais alarmante, é que essas realidades são sustentadas com a guarida da administração pública, pois certamente o ente estatal exige desses estabelecimentos o alvará de funcionamento, mas parece não se preocupar em disciplinar e melhor alocá-los. Pois a solução não é a interdição desses estabelecimentos, mas sim uma disciplina, melhor organização e local apropriado para eles no espaço urbano.
Soluções como reformas da Praça Castro Alves e do espaço ao final da Lomanto Júnior precisam acontecer, pois há uma real demanda econômica, os empresários movimentam a economia local, além de serem locais turísticos que merecem um melhor tratamento por parte da Prefeitura. Com a reforma, esses espaços podem propiciar uma melhor convivência social, com uma arquitetura moderna e sustentável, banheiros públicos, paisagismo, obedecendo as regras de acessibilidade e com um visual ecologicamente correto.
A estima da cidade tem tudo para ser melhorada. O que não falta em Ilhéus são áreas livres que podem abrigar com folga projetos voltados para a correta ocupação urbana, incorporando esses estabelecimentos espalhados, só que de forma planejada para a promoção do bem-estar de seus habitantes. O Município precisa ser eficiente na organização do espaço urbano, sobretudo em parceria com a comunidade, havendo a cooperação entre o público e o privado na elaboração dos planejamentos para uma gestão democrática.
O que não dá é uma cidade turística e histórica como Ilhéus ficar parecendo uma feira a céu aberto, onde qualquer um chega, arma seu toldo e vende seu produto – isto sem mencionar a situação da informalidade nos calçadões do comércio, que está correndo solta.
Até um dos principais pontos de ônibus da cidade, em frente à ladeira da Vitória, tem um toldo como cobertura para os passageiros. Com uma placa onde consta “provisório”, o toldo no ponto de ônibus já aniversaria há mais de 6 meses. O fato é que, com o passar do tempo, Ilhéus parece ter adotado o estilo feira livre como modo de sua política urbana. Uma cidade como a nossa, com esse tipo de falha, não dá.
Somente a sociedade civil organizada e os munícipes têm a legitimidade para pressionar os governantes eleitos para que trabalhem efetivamente e em prol do interesse real da coletividade. Se a sociedade não é interessada, descemos a ladeira abaixo e os governantes atuam ao próprio modo, a cidade não melhora. Precisamos ser uma sociedade interessada com suas próprias questões, atuante, para que o Estado trabalhe para realizar a vontade política, que é do povo ilheense.
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