Pesquisadores do Instituto Butantan deram novos detalhes sobre o estudo que mostrou uma eficácia maior da vacina CoronaVac, inclusive contra variantes do coronavírus.
A resposta veio dos laboratórios. Dos mais de 12 mil voluntários que participaram do estudo, uma parte tomou as duas doses da CoronaVac ainda na fase de testes em 2020, antes que as variantes do coronavírus aparecessem. Foi o sangue dessas pessoas que foi analisado.
As amostras de soro, que é onde ficam os anticorpos, foram congeladas a 80 graus negativos. Este soro foi então dividido para testar a reação com três tipos de vírus. Primeiro o coronavírus original, que surgiu em Wuhan, na China. Depois duas variantes: a P1, que foi detectada primeiro em Manaus e que hoje responde pela maioria dos casos no brasil, e a P2, detectada primeiro no Rio de Janeiro.
Os tubos ficaram em banho-maria durante uma hora, numa temperatura parecida com a do nosso corpo. Os anticorpos presentes no sangue, que têm mais ou menos a forma de um Y, tentam se ligar aos spikes, os espetos do coronavírus. O sucesso é quando eles conseguem lacrar o vírus, impedindo que ele se ligue às células.
Mas os cientistas não conseguem garantir o resultado, só olhando os tubos de ensaio. É preciso colocar o vírus e os anticorpos junto das células, no caso, placas com colônias de células de macacos. Então dá para ter certeza da resposta imune: os anticorpos neutralizaram o vírus e ele não vai contaminar nenhuma célula.
O pesquisador Maurício Nogueira, que participou dos estudos, explica que grande parte das 109 pessoas que passaram por esse teste específico para as variantes apresentou anticorpos.
“Mais de 70% dessas pessoas desenvolveram anticorpos contra a cepa vacinal e mais: alguns, como para caso da variante P2, chegaram até 80%, mostrando então uma boa eficácia dessa vacina contra as variantes”, disse Mauricio Nogueira, virologista e professor da Famerp.
O estudo final também sugere que a CoronaVac tem eficácia global de 50,7%, um pouco acima do que já tinha sido anunciado, e que a eficácia pode subir para 62,3%, quando as duas doses são aplicadas em um intervalo entre 21 e 28 dias – antes o intervalo sugerido era de 14 a 28 dias. Com a revisão dos dados, a eficácia para casos moderados – aqueles que precisam de algum tipo de assistência médica – subiu de 78% para 83,7%.
O instituto ainda precisa apresentar outros dados que demonstrem principalmente a capacidade do organismo de produzir anticorpos depois da vacinação: é o chamado estudo de imunogenicidade.
“Todos esses dados serão muito rapidamente fornecidos à Anvisa, no sentido de completar o dossiê da Anvisa para a solicitação de registro da vacina”, explicou o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.
O prazo para enviar os dados da imunogenicidade à Anvisa termina no próximo dia 30. Além disso, o Butantan afirmou que vai mandar o estudo final ainda esta semana para revisão de outros especialistas e publicação na revista científica “The Lancet”.
Os pesquisadores reforçam que a vacina é eficaz e segura e tem a função principal de evitar o desenvolvimento de um quadro grave da doença, hospitalização e morte.
“Os dados mostram isso, que ainda pode pegar a doença, mas, em geral, muito menos grave. Mas não vale a pena correr o risco de se expor e ser a exceção da regra”, afirmou o virologista Maurício Lacerda. [G1]
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