Cultivado pelos astecas, no México, e pelos maias, na América Central, o cacau sempre foi um fruto valioso: as sementes eram usadas como moedas. Hoje, o fruto continua a ser valorizado não só na produção do chocolate, mas de diversos outros produtos alimentícios e cosméticos.

Responsável por sustentar cerca de 70 mil famílias brasileiras, a cacauicultura movimenta grandes setores que compõem a cadeia produtiva do fruto: “Nesse sistema temos o fornecedor de insumos, o agricultor, o moageiro, a indústria do chocolate e a comercialização dos produtos derivados do cacau”, explica o coordenador técnico científico da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), Manfred Willy Müller.

De acordo com o especialista, o Brasil não é referência na produção, mas se destaca por ser o único país no mundo a ocupar todos os setores da cadeia produtiva. “Além dos agricultores, nós temos os responsáveis pela moagem do fruto, pela industrialização e pela comercialização dos derivados”, diz.

Outra caraterística que tem chamado atenção na cacauicultura brasileira é a valorização do trabalho do produtor. “Hoje nossos esforços são para incentivar o agricultor a atuar em todos os setores da cadeia, produzindo o fruto e o próprio chocolate”, comenta o engenheiro agrônomo, que ressalta a importância de ações como essa para agregar valor ao trabalho do campo.

Produtor de cacau há mais de 50 anos, Henrique de Almeida também acredita na iniciativa como a única solução para manter a produção sustentável. “Eu não vejo outro caminho para a cacauicultura do Sul da Bahia que não seja a verticalização dos setores”, comenta o agricultor, que investe na própria marca de chocolate há oito anos.

“Encontramos nosso caminho em 2009, quando vendemos cacau para o Bonnat Chocolatier (marca de chocolate), na França. Depois disso estudei chocolateria, entrei no mundo do chocolate e hoje invisto para produzir 500 quilos por dia”, explica Henrique, representante da terceira geração da família Amorim, que trabalha com cacau desde 1884.

“Se não fosse o chocolate, a minha fazenda, de 60 hectares, seria igual a maioria das propriedades daqui: cedem pedaços de suas terras porque não lucram o suficiente para pagar os trabalhadores”, completa o agricultor, que comemora os avanços da produção. “Hoje, só na fazenda, são nove colaboradores fixos registrados, com participação no resultado do chocolate”, diz.

No “ranking mundial” de cacauicultura, o Brasil varia entre o sexto e o sétimo lugar, posto muito abaixo do que o País já alcançou. “Já fomos o segundo maior produtor do Mundo, de 1977 até meados de 1994. Depois, a produtividade foi caindo, até chegar na colocação atual, com uma média de 204 mil toneladas produzidas por ano”, comenta o engenheiro Manfred.

O “desfalque” teve início na Bahia que, responsável por 90% da produção nacional até o ano de 1991, enfrentou desafios que até hoje deixam marcas.

“A queda se deu após a constatação do fungo vassoura-de-bruxa nas produções de cacau. Além da praga, a forte seca que o estado enfrentou na década de 90 e os preços baixos do fruto no mercado contribuíram para a diminuição na produtividade”, lembra.

 As dificuldades que ameaçaram a então “capital do cacau”, no entanto, parecem estar sendo superadas em outro estado brasileiro. “A cacauicultura no Pará tem tido ótimos resultados. Em 2016, o Estado produziu 40% das 215 mil toneladas, já em 2017 o cultivo resultou em 49% da produção anual”, destaca Manfred, que acredita na qualidade do solo como grande facilitadora de tamanho sucesso.

“Os produtores têm aumentado a área de plantio em aproximadamente oito mil hectares por ano, resultando em cerca de 150 mil hectares de cacau produtivos anualmente. Além disso, por serem áreas mais férteis, a produtividade é mais elevada”, completa.

Matéria G1.

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